Feijoada boa dá em samba. E no verão de Niterói a programação gastronômica, combinada com esse gênero musical, é intensa. A iguaria invade os restaurantes da cidade. No caldeirão: torresmo, farofa, paio, carne-seca, toucinho, entre outros segredos dos chefs. Para os ouvidos, o som de clássicos de artistas como Noel Rosa, Wilson Moreira, Zé Keti, Cartola e Nelson Cavaquinho.
Há 24 anos surgia uma das casas de samba que hoje é tradição na cidade. O que antes era um encontro de amigos debaixo de um pé de mangueira, agora se tornou a Toca da Gambá, um local que reúne músicos de qualidade com uma feijoada de primeira desde 2005. “A Toca da Gambá foi fundada por meu pai que faleceu há 5 anos. Antes era só um encontro de amigos e músicos na sombra de uma mangueira e com uma churrasqueira. Não era uma casa comercial. Mas me vi envolvido com esse lugar depois da morte do meu pai. Não quis deixar que a ideia de meu pai acabasse. Desde que ele morreu comecei a mexer na Toca. Foram os próprios músicos que pediram para eu dar continuidade. E o lugar começou a tomar vida. Hoje até músico da Lapa vem para cá. Temos um público de 300 pessoas”, afirma o proprietário da casa Jairo Pacheco, de 41 anos, conhecido como Jairinho. A feijoada da Toca da Gambá acontece todo último sábado do mês. Segundo Jairinho, o sucesso do lugar se deve ao apoio de amigos e familiares, além de sua simplicidade. “O segredo é a simplicidade. O nosso slogan é ‘um bar de respeito’. Aqui é uma casa muito familiar. É um bar de amigos. Além disso, estou casado com a Carla Alessandra Martins há quase um ano. Foi ela quem me deu força para manter o espaço. Tive que ter muita determinação por ter outra atividade paralela. Também tenho um braço de ferro que é a Glória Maria, amiga de meu pai e madrinha daqui. E a figuraça da casa é a Tânia (Maria Demiciano), uma baiana que faz a feijoada e vai para o salão dançar. O público tem gostado da receita dela”, garante o proprietário, que é interrompido pela cozinheira.
“O segredo da minha feijoada é muito amor, carinho e a alegria de fazer. Tenho paixão pela cozinha”, vibra Tânia, de 51 anos.
Feijoada, só que a quilo
Os sócios Adalberto Caveari, de 34 anos, Carlos Ribeiro, de 36 anos, e Hajime Yokoyama, de 37 anos, decidiram fazer uma feijoada com roda de samba um pouco diferente. Desde que o Boteco Confraria abriu, há mais de um ano, o trio oferece todos os sábados uma roda de samba acústica com feijoada, só que a quilo.
Como a procura foi muito grande, vimos a necessidade do buffet para a pessoa se servir à vontade. É um preço fixo e a pessoa pode comer petisco, feijoada, sobremesa. E nosso samba geralmente é acústico. Não tem caixa de som, amplificador. Hoje é diferente porque é uma homenagem aos 100 anos de Noel Rosa e estamos com a velha guarda de Vila Isabel. Mas todos os sábados têm o grupo de samba que é o Família Legal junto com a feijoada”, afirma Adalberto Caveari, que acabou de abrir com seus sócios a casa Salve Simpatia, ao lado do Boteco Confraria.
“É difícil a gente mudar uma coisa que está dando certo. A gente deve levar a feijoada para lá também aos sábados. Inicialmente, vamos servir a la carte. Mas dependendo da procura, vamos fazer feijoada nos dois lugares com rodas de samba”, antecipa o empresário.n
Várias opções pela cidade
Todo segundo sábado do mês, a quadra da Porto da Pedra também vira palco de feijoada com samba. A feijoada da Família Tigre sempre recebe convidados ilustres e, às vezes, conta com a participação do presidente da agremiação, Francisco José Marins Ferreira.
Neste mês, a quadra da Viradouro também promete voltar com a feijoada, mas a data ainda vai ser definida pela escola.
Outro ponto frequentado pelos sambistas de plantão é o bar Graduados, localizado no centro de Niterói. O feijão rola no segundo domingo do mês.
Todos os sábados, o restaurante Jambeiro, no Ingá, também costuma trazer essa tradicional combinação. Tudo muito tradicional, como convém ao restaurante que já virou até cartão postal.
Entrevista: Ilton do Candongueiro- Tradição de Niterói
Há 20 anos, quando foi inaugurado, o Candongueiro também era mais modesto. Hoje, considerada uma das melhores rodas de samba do Estado, o local é super disputado e oferece uma vez por mês uma tradicional feijoada aos domingos. Com um público de 700 pessoas, o lugar é comandado pelo casal Ilton do Candongueiro, de 65 anos, e Hilda Maria de Lemos, de 65 anos, e por Ivan Mendes, de 27 anos, filho dos proprietários. A seguir, Ilton dá detalhes sobre o evento e sua casa.
Quando começou a feijoada?
A feijoada veio junto com o Candongueiro há 20 anos. Sempre fizemos aqui. Depois levamos um período pequeno parado porque teve obra, mas voltamos. Mas a feijoada é uma vez por mês e não tem dia certo. É sempre num domingo. Pode ser o primeiro, o segundo. Depende da programação.
Como é feita a programação?
A gente, no final do mês, já faz para o próximo mês. É sempre o mestre Wilson Moreira comandando a feijoada. Hoje, ele é a pessoa mais importante do samba. Isso você pode perguntar a Zeca Pagodinho, a qualquer sambista. Wilson Moreira é unanimidade. Não existe outra pessoa como ele e meus amigos concordam comigo. Ele é um orixá, deixou de ser um compositor.
Como é ter uma casa que é referência no Estado do Rio?
Não existe segredo. Tem que trabalhar certo. Estou fazendo uma roda independente de ter muita ou pouca gente. A roda tem sempre a mesma qualidade. Eu sou sambista e poderia há algum tempo estar fora da roda, estar no meu ar condicionado, mas eu sou o que mais trabalho.
O Candongueiro mudou ao longo do tempo?
Não. Está a mesma coisa. O Candongueiro sempre foi assim sem letreiro, nada. Quem gosta de samba, sabe. É um trabalho em que a gente se diverte, se aborrece, depende do momento. A gente lembra de pessoas que já foram como Luiz Carlos da Vila. Isso tudo faz parte da minha vida. Foi a minha vida e é a minha vida. E eu não devo durar muito.
Quem já passou pela casa?
Já passou Zé Kéti, que vai ter seu centenário agora, João Nogueira sempre festejava o aniversário dele aqui, Nelson Sargento, que ainda vai durar mais uns 100 anos, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Luiz Carlos da Vila, entre outros.
O FLUMINENSE

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