Você está lá, tranquilo, dormindo ou nadando, quando de repente um músculo decide se rebelar. Vem uma dor aguda, o músculo endurece como pedra e você fica sem saber se ri, grita ou tenta alongar. A cena é familiar para quase todo mundo: as famosas câimbras. Elas podem durar segundos, mas a sensação fica na memória como se tivesse sido uma eternidade.
Apesar de tão comuns, ainda carregam certo mistério. Câimbras são contrações involuntárias e súbitas de um músculo ou grupo muscular, geralmente acompanhadas de dor intensa. Podem acontecer com qualquer pessoa saudável, mas são mais frequentes em idosos, atletas, grávidas e até em quem está apenas deitado vendo TV. Também podem estar ligadas a condições de saúde, como cirrose, doenças neurológicas, distúrbios hormonais e até uso de certos medicamentos, como diuréticos e estatinas.
A ciência ainda não tem uma única explicação definitiva, mas sabe que vários fatores podem contribuir. Entre eles estão a fadiga muscular, pequenas falhas na comunicação entre nervos e músculos, a desidratação e o desequilíbrio de minerais como sódio, potássio, magnésio e cálcio. Em doenças como a cirrose, mudanças na função dos nervos, no metabolismo e na circulação também entram no pacote. Em outras palavras, a câimbra é quase sempre resultado de uma soma de fatores, e não de um único culpado isolado.
Quando a câimbra ataca, alongar o músculo afetado costuma ser o jeito mais rápido de aliviar. Massagear a região e aplicar calor local também ajudam, pois aumentam a circulação sanguínea e relaxam as fibras musculares. Se o episódio ocorrer na água, é importante manter a calma, tentar flutuar e alongar devagar, para não aumentar o risco de afogamento. Segurança primeiro, depois o alívio.
Alguns cuidados simples podem reduzir bastante a frequência das crises. Manter a hidratação ao longo do dia é fundamental, já que a perda de líquidos altera o equilíbrio de eletrólitos no organismo. Ter uma alimentação variada, rica em frutas, verduras, legumes, oleaginosas e grãos integrais, ajuda a repor minerais importantes. É aqui que entra a famosa banana, sempre lembrada como “remédio” contra câimbras. A fruta é realmente rica em potássio, mineral que participa da contração e do relaxamento muscular, e pode ajudar em casos de déficit. Mas, para a maioria das pessoas, ela funciona mais como parte de uma dieta equilibrada do que como solução imediata para o problema. Além disso, alimentos como água de coco, abacate, folhas verdes e castanhas também são boas fontes de minerais essenciais para a saúde muscular.
Alongar-se antes e depois de exercícios físicos, e até antes de dormir no caso de câimbras noturnas, também é benéfico. Essa prática mantém as fibras musculares mais flexíveis e menos propensas a contrair de forma involuntária. Outra medida preventiva é evitar permanecer muito tempo na mesma posição, especialmente sentado ou com as pernas cruzadas, o que pode prejudicar a circulação e favorecer o surgimento das crises.
Na maioria das vezes, câimbras são benignas. Mas se forem muito frequentes, intensas, acompanhadas de fraqueza, formigamento, inchaço ou se surgirem em locais incomuns, vale investigar. Em casos persistentes, o médico pode avaliar desde alterações metabólicas e hormonais até doenças musculares e neurológicas.
Em situações específicas, como em pacientes com cirrose ou doenças neuromusculares, o médico pode prescrever suplementos como vitamina E, taurina ou zinco, ou ainda medicamentos que ajudam a reduzir a frequência e a intensidade das crises. O uso, porém, precisa ser individualizado, pois a eficácia varia e nem todos têm indicação segura.
No fim, a câimbra é como um alarme. Ela avisa que algo na sua rotina, como hidratação, consumo de sais minerais, preparo físico ou até algum aspecto da saúde, precisa de atenção. E, como qualquer alerta, é melhor ouvir antes que ela apareça no meio da madrugada, durante aquela corrida tão esperada ou no meio do mar, interrompendo o que poderia ser um momento prazeroso e transformando-o em uma pausa forçada e dolorosa.
FONTE: O Globo / Receita de Médico
Por Stephanie Rizk
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