Tatiana Lang D'Agostini, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) da Secretaria do Estado de Saúde de SP, afirma que em todos os casos fatais os pacientes não contavam com a vacinação para a doença. E diz que a cobertura do estado para a febre amarela chega aos 80%, um patamar alto.
— É uma doença imunoprevenível, temos a vacina a nosso favor para proteger a população. É esse o momento para que todo mundo que não está imunizado vá ao posto de vacinação. Também é preciso ressaltar que quem for fazer ecoturismo em regiões de mata que se vacine até 10 dias antes do deslocamento até essa região — afirma.
As regiões em que há indicativos da doença e que, portanto, inspiram cuidado redobrado são, entre outras localidades, onde há confirmação de casos Socorro (a 134 km da capital), Tuiuti (a 112 km) e Joanópolis (a 112 km). Também levanta preocupação a região de Ribeirão Preto, onde foi detectada a morte de ao menos 20 macacos em decorrência da infecção. Todas as ocorrências de febre amarela em São Paulo, vale dizer, se deram no interior paulista. E não há indícios de que a doença se espalhou para outras localidades do país até este momento.
A situação atípica já faz regiões vizinhas atentarem-se para o risco de espraiamento da doença. Ao GLOBO, o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, afirmou que já alertou às equipes de saúde da família e de centros de referência que reforcem a busca por cariocas sem vacinação para febre amarela e conscientizem a população da necessidade de receber as doses ao longo de eventuais consultas. A preocupação, dizem especialistas, não é sem motivo.
— O avanço de casos em São Paulo acende um alerta. Existe o risco da transmissão se expandir. Estamos ainda no início da temporada da doença. Podem ocorrer (casos) principalmente para Minas e Rio de Janeiro. É preciso estar sempre atento, sobretudo na vigilância da morte de primatas não humanos — explica Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), que explica que a disseminação da doença se dá por meio de "corredores" ecológicos, de mata. — É uma época em que é preciso redobrar a atenção, sobretudo a morte de primatas não humanos (como os macacos). Essa é a principal estratégia de vigilância que existe, porque primeiramente morrem os macacos e depois começam a surgir os casos em humanos.
É primordial dizer que, apesar de ser um importante indicador da doença, os macacos não são transmissores da febre amarela e que, portanto, não há qualquer sentido em atacar nesses animais. Eles na realidade ajudam a identificar a circulação do vírus, uma vez que seu adoecimento por conta dessa arbovirose (nome que se dá para doenças transmitidas por mosquitos e carrapatos) é um importante sinal para as equipes de vigilância.
— Com certeza estamos iniciando uma sazonalidade importante de febre amarela no estado de São Paulo porque o início (da temporada), em geral, ocorre em dezembro e acaba em maio. Agora em janeiro já ultrapassamos o patamar do ano passado. Estamos em um cenário que requer atenção e que é preciso empenhar esforços na vacinação. Sobretudo direcionada onde ocorreu a epizootia (nome que se dá (à morte dos primatas) e casos de mortes humanas. É preciso que haja comunicação focada nesses locais — afirma Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Croda ainda ressalta outro ponto desafiador da doença: os sintomas iniciais da febre amarela (febre, mal-estar, dores pelo corpo) podem confundir com os indicadores dos primeiros desdobramentos de um quadro de dengue. O recomendado é que pessoas com sintomas semelhantes procurem o serviço de saúde mais próximo.
Vacina para todos
A vacinação da febre amarela está disponível em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) por integrar o calendário de imunização brasileiro. Desde 2020, o Ministério da Saúde ampliou a recomendação das doses para todos acima de 5 anos de idade (com uma dose) e para crianças de 9 meses a 4 anos de idade (com duas doses). As exceções são para casos específicos, como pessoas com alergia grave a ovo, pacientes com HIV com contagem de células CD4 menor que 350, mulheres amamentando crianças com menos de 6 meses de idade, pessoas com algum tipo de imunodeficiência e pacientes em processo de quimioterapia e radioterapia.
Wanderson de Oliveira, epidemiologista no Hospital das Forças Armadas e professor do Centro Uniceplac, em Brasília, além de ex-secretário de vigilância do Ministério da Saúde lembra que, apesar de inspirar preocupação, a febre amarela ainda é uma doença que ocorre em regiões de mata. O que reduz sua abrangência no país. Uma eventual mudança de vetor da doença (ela é transmitida pelos mosquitos típicos de áreas silvestres Haemagogus e o Sabethes) para um mosquito urbano, como o Aedes Eegypti, seria um risco muito grande para a população.
— Não temos casos urbanos da febre amarela desde 1942. Todos os casos humanos que tivemos desde então são de pessoas que se expuseram a áreas silvestres. Não podemos, portanto, deixar o mosquito da dengue se reproduzir com intensidade em áreas onde há febre amarela. Por isso, devemos controlar o mosquito da dengue em paralelo com as ações de prevenção e vacinação contra a febre amarela — alerta.
FONTE: O Globo / Saúde
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